sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A onda agora é ir pro espaço!

TREND. Na extremidade oeste do Pall Mall, em Londres, entre os mais veneráveis e antiquados clubes de cavalheiros, um novo escritório abriu as portas para o público no início deste ano. Sua vitrine proclama em grandes letras o simples slogan: “O espaço é território Virgin”. Aqui, entre os prédios ornamentados do passado, está o futuro das viagens.


 Dentro do escritório, rapazes e moças estão muito ocupados com computadores e telefones, enquanto os decoradores dão os últimos retoques às salas elegantes, com divisórias de vidro. Esta é a nova sede no Reino Unido da Virgin Galactic, com a qual Richard Branson espera criar todo um novo mercado de turismo – no espaço exterior. Em uma sala, uma foto da Terra ocupa duas paredes. Em outras há enormes imagens da espaçonave da companhia decolando e pousando em sua base de lançamento no Novo México (EUA). “As coisas vão incrivelmente bem”, diz Stephen Attenborough, diretor comercial da Virgin Galactic. “Estas são imagens computadorizadas, mas no ano que vem esperamos substituí-las por fotografias reais, de nossos primeiros voos comerciais para o espaço exterior.” Branson pagou mais de 162 milhões de libras para projetar e construir uma frota de naves-mães WhiteKnightTwo e aviões menores SpaceShipTwo, que levarão os clientes a mais de 100 quilômetros da superfície da Terra, onde termina a atmosfera do planeta e começa o espaço. A tecnologia é surpreendente e inovadora.


Passageiros Vips e Contemporâneos

Entre os que fizeram reservas para a primeira missão da Virgin Galactic estão Branson, seu filho Sam e sua filha Holly. Angelina Jolie está agendada para um dos primeiros voos, assim como seu parceiro, Brad Pitt. Outros que reservaram a viagem de 125 mil libras incluem o ator Ashton Kutcher, os pilotos de Fórmula 1 Rubens Barrichello e Niki Lauda, os cientistas James Lovelock e Stephen Hawking; a princesa Beatriz do Reino Unido e Paris Hilton também constam das primeiras listas de passageiros.



A Lynx, aeronave da XCOR, também em simulação gráfica. Foto: Divulgação 

Por exemplo, Andrew Nelson, executivo chefe do consórcio aeroespacial XCOR, sediado em Mojave, Califórnia, deverá falar sobre o progresso de sua espaçonave Lynx. Ela foi projetada para decolar e pousar como um avião. Em termos de escala, é relativamente uma anã, comparada com a nave da Virgin Galactic: a Lynx comporta apenas um piloto e um passageiro. Por outro lado, seu livro de reservas, cheio de voos de 34 milhões de libras, é igualmente impressionante. Os testes deverão começar este ano, e os lançamentos comerciais em 2014. “Continuamos enfocados em oferecer o avião-foguete mais bacana do planeta”, disse Nelson no início deste ano, quando anunciou a captação de fundos para as etapas finais do desenvolvimento da Lynx. Outros que sondam o setor de turismo espacial incluem a Armadillo Aerospace, no Texas, que está desenvolvendo um foguete de decolagem vertical para levar clientes em voos suborbitais e, mais tarde, orbitais. A empresa russa Orbital Technologies ganhou manchetes no ano passado quando revelou planos de construir um hotel no espaço. Nessa casa de hóspedes em órbita, com quatro quartos, os clientes poderão brincar em gravidade zero durante vários dias — mas por um alto preço: 500 mil libras por um assento no foguete Soyuz que os levará à órbita e mais 100 mil libras por uma estada de cinco noites. A comida será feita em microondas, não haverá álcool e a água será reciclada. Por outro lado, as vistas serão de outro mundo.


Preços acessíveis? 

Um fator chave comum nesses projetos é o preço: alto, mas não proibitivo. Custa cerca de 30 mil a 75 mil libras uma tentativa de escalar o monte Everest, por exemplo, e não é por acaso que os voos da Virgin Galactic e da XCOR têm preços apenas ligeiramente mais altos – para capturar o mercado de turismo de extrema aventura dominado pelo homem e a mulher que têm relógios Breitling e salários de seis dígitos. Isso não significa levar as viagens espaciais às massas, é claro, mas as tornará mais acessíveis que antes. Até hoje apenas sete pessoas, todas bilionárias, compraram passagens para uma estada de uma semana na Estação Espacial Internacional (ISS). A mais recente destas foi o canadense Guy Laliberté, fundador do Cirque du Soleil, que pagou 22 milhões de libras por um voo em que ele deu entrevistas da ISS sobre a iminente crise de água no mundo, antes de colocar um nariz vermelho de palhaço para sua descida à Terra em uma cápsula Soyuz.


Richard Branson, Andrew Nelson e outros empresários estão pelo menos reduzindo o custo de viajar para fora da atmosfera, colocando-o ao alcance de um número muito maior de clientes potenciais. De fato, a ideia do turismo espacial já se torna comum, diz um dos organizadores da conferência desta semana, Pat Norris, da Logica. “Fizemos nossa primeira conferência em 2006. Ela teve um tom muito especulativo. Afinal, era uma nova indústria. Três anos depois, grandes investimentos foram feitos e realmente sentimos que estamos indo para algum lugar. Agora estamos deixando para trás questões de engenharia e nos concentrando em vendas e receitas. Estamos abertos para negócios.” Um delegado – Erick Morazin, da Allianz Global Assistance – vai até explicar como os que querem ser projetados ao espaço podem conseguir seguro para sua viagem.

Fonte: REVISTA CARTA CAPITAL
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domingo, 10 de fevereiro de 2013

PROGRAMA ESPACIAL tenta retomar rumo

Matéria publicada na revista Carta Capital de fevereiro. 10/02/2013 15:39

Corrida Espacial


O SCD-1, primeiro satélite brasileiro, completou 20 anos no espaço no sábado 9. E a sensação é de que, enquanto dava com precisão suas mais de 105 mil voltas em torno da Terra, o programa espacial nacional se perdia. Desde o lançamento daquele 9 de fevereiro de 1993, o setor cresceu, mas não como se projetava e não de acordo com o progresso do país. O rumo, afirmam especialistas, só foi retomado nos últimos anos.  O satélite marcou o ápice do programa brasileiro. Foi seguido do lançamento do SCD-2, em 1998, e era parte de um projeto ambicioso, a Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), que tinha como objetivo dar ao Brasil o domínio do ciclo espacial completo – privilégio de poucos países. Uma etapa, a dos satélites, foi realizada com reconhecido sucesso. Outras, como o desenvolvimento de um lançador, jamais foram concretizadas.  “Foi o auge do programa espacial brasileiro, mas, desde então, o progresso não foi mantido. A MECB foi interrompida, os recursos pararam de chegar. Não se cumpriu o planejado, e só agora, com o chamado Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae), uma nova abordagem está sendo empregada”, opina Othon Winter, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro do conselho deliberativo da Associação Aeroespacial Brasileira (AEB).


NOVOS INVESTIMENTOS

Recursos no patamar dos anos 1980

O Pnae é por diversos pontos alvo de críticas, mas tem o mérito de, com um plano para o período 2012-2021, pôr fim a anos de orçamentos insuficientes e irregulares do setor. A ideia é que o investimento anual volte aos níveis dos finais da década de 1980, quando chegou a 260 milhões de reais (nos valores de hoje). Em 1999, por exemplo, a verba destinada ao setor foi de apenas 21 milhões de reais.  Os recursos ainda são baixos se comparados com os dos Estados Unidos, que destinam 15 bilhões de dólares por ano só para o seu programa espacial civil, ou com os da Índia, emergente como o Brasil, mas que dá 450 milhões de dólares para o setor todo ano. Mas representa uma guinada após mais de uma década de avanços lentos.

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Do acordo com Índice Futron de Competitividade Espacial, que mede o desempenho de 15 países no setor, o Brasil aparece em 11º lugar, mas dá sinais de melhora. O relatório ressalta que o programa brasileiro começou a reavaliar suas prioridades, aumentar os fundos e expandir suas parcerias, mas diz ser preciso esperar para ver se esses passos serão suficientes para manter o país à frente de outras nações da região que começam a emergir na cena espacial. Apesar dos percalços, o programa espacial brasileiro teve realizações nas últimas duas décadas. Em parceria com a China, conseguiu desenvolver e pôr no espaço três satélites CBERS (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres). Além disso, aumentou e melhorou sua infraestrutura, como o Laboratório de Integração e Testes (LIT) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), referência no Hemisfério Sul, operado com reconhecida competência.


Parceria com setor privado

Mas parte da crítica, afirma Winter, está no fato de as realizações terem sido alcançadas de forma esporádica, fruto de ações isoladas de um ou outro governo e não de uma política de Estado contínua. E ele aponta como consequência negativa disso o acidente de 2003 na base de Alcântara, que custou a vida de 21 pessoas, e o afastamento do Brasil do projeto de construção da Estação Espacial Internacional (ISS) por não honrar seus compromissos. Para melhorar o setor, um dos meios encontrados pela Agência Espacial Brasileira (AEB) foi se esforçar para aumentar a participação da indústria nacional nos projetos espaciais. No ano passado, foi criada a Visiona, fruto da associação da Embraer (51%) com a Telebras (49%). Ela ficará responsável pelo desenvolvimento do primeiro Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), previsto para ser colocado em órbita em 2015. Investimento no setor espacial brasileiro é muitas vezes centro de críticas num país com outras carências, mas o diretor do Inpe, Leonel Perondi, ressalta que dar recursos à área é fundamental para o desenvolvimento de tecnologias estratégicas em outros segmentos. “Temos que produzir com maior valor agregado. A área espacial é uma área que promove muito a produção de itens mais sofisticados, e o setor é muito importante para qualificar a indústria. Ele poderia ser maior no país, porque o país precisa caminhar mais nessa trilha”, afirma.

cartacapital: programa-espacial-brasileiro